terça-feira, 24 de setembro de 2013

Nas zonas recônditas do país: Famílias escondem crianças com deficiência

"Se ser criança em Moçambique já é difícil, mais complicado é quando se trata de uma criança com deficiência, principalmente nas zonas onde o acesso à informação e outros serviços básicos ainda é deficitário.

Não obstante algum esforço tendendo a promover a integração e melhores condições de vida da pessoa com deficiência, especialmente da criança com necessidades especiais, este grupo social continua a sofrer in¬úmeras privações.
A exclusão social, os maus tratos e a negligência muitas vezes perpetrados pela própria família, bem como as limitações no acesso aos direitos fundamentais, fazem parte das barreiras que continuam a minar o desenvolvimento seguro e que exigem acções mais enérgicas por parte do Governo, Organizações da Sociedade Civil e principalmente, das famílias.
Organizações da Sociedade Civil que trabalham na área da deficiência, avançam que o cenário ¬é menos assustador nas áreas urbanas onde as pessoas têm maior acesso à informação e serviços sociais como Educação e Saúde, contrariamente ao que acontece nas zonas rurais, onde estes serviços ainda não se fazem sentir.
“É certo que está sendo realizado algum progresso, mas penso que para além de olharmos para crianças que já identificamos e que beneficiam de apoio, devemos também virar as atenções para as crianças com necessidades especiais que chegam a ser escondidas do “mundo” o que apaga a esperança destas levarem uma vida minimamente condigna” – Albino Francisco, coordenador do ROSC.
Devido à razões culturais e crenças, aliadas ao fraco acesso à educação e informação, nas zonas rurais, muitas crianças com necessidades especiais chegam a ser consideradas fruto de maldição ou feitiçaria, o que leva os pais a esconderem-nas ou a mantê-las longe das outras, situação que na ¬óptica do representante do ROSC deve constituir um desafio a ser ultrapassado, exigindo deste modo uma intervenção clara e objectiva dos diversos intervenientes.IMG00775-20130212-1139
Por sua vez, Abel Machavate, representante do F¬órum da Associação Moçambicana dos Deficientes (FAMOD), advoga a necessidade de se intensificar as acções de educação cívica direccionadas à sensibilização das famílias para que percebam que mesmo com deficiência, a criança deve ser tratada com carinho e consideração, pois tem os mesmos direitos que as outras.
“ Muitas crianças ainda são escondidas da sociedade devido à deficiência. As famílias devem saber que a criança deficiente ¬e igual às outras”.
Estas preocupações foram apresentadas recentemente em Maputo, na sequência de um encontro preparativo de uma campanha contra a discriminação da criança com necessidades especiais, que esta sendo liderada pelo Fundo das Nações Unidas para o Apoio à Infância (UNICEF) e que conta com a parceria do ROSC.
Dados do Inquérito de Indicadores Múltiplos (MICS) divulgados em 2008 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), indicam que cerca de 14% destas crianças com idades compreendidas entre dois e nove anos de idade tem algum tipo de deficiência.
O Comité de Peritos da Nações Unidas para os Direitos da Criança, na apreciação que fizeram ao Relatório do Governo sobre a implementação da Convenção dos Direitos da Criança em Moçambique, recomendou ao Governo no sentido de implementar programas de consciencialização que sensibilizem o público quanto aos direitos e necessidades especiais das crianças com deficiência e a incentivar a inclusão destas na sociedade."


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