sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sistemas Aumentativos e/ou Alternativos de Comunicação.


No processo de interação entre a criança e seus interlocutores ocorre a aquisição de conceitos e a criança desenvolve a capacidade de simbolizar o mundo que a rodeia.
Inicialmente o bebé manifesta as suas necessidades básicas, através de uma comunicação não-verbal, (choro, expressões motoras, etc) que é descodificada pela mãe, de acordo com o contexto.
A compreensão e a utilização dos símbolos evolui de acordo com o  desenvolvimento da criança. Por exemplo, diante de um prato, ela pode relacioná-lo com a comida, porém, a mesma relação pode não ocorrer diante de um desenho de um prato ou através da mensagem verbal "prato".
Os aspectos referidos acima ilustram resumidamente que os conceitos são representados através de uma hierarquia de símbolos: objetos, fotografias, desenhos, palavras, etc, através dos quais a criança irá representar o ambiente para interagir e controlar o meio.
O sistema de comunicação do ser humano utiliza expressões verbais e não-verbais.
Entretanto, muitos indivíduos não podem desenvolver a fala devido a comprometimentos motores que limitam sua capacidade de produção e de articulação das palavras ou comprometimentos sensoriais na recepção ou execução de estímulos.
Assim a sua comunicação fica dificultada sendo necessário recorrer ao fortalecimento de meios de comunicação aumentativos ou alternativos.

Sistema de Comunicação não-verbal
Classificam-se em dois grupos distintos: Sistemas de comunicação sem ajuda e Sistemas de comunicação com ajuda.
Os sistemas sem ajuda são aqueles que não requerem qualquer instrumento ou auxílio técnico externo para que a comunicação se realize:
  • Gestos de uso comum: Gestos que pertencem a uma comunidade: afirmação, negação com a cabeça, aceno com as mãos, etc.
  • Códigos gestuais não linguísticos: Ex.: Sistema de comunicação manual de tribos indígenas (Amer-Ind), etc.
  • Sistema de língua de sinais em comunidade de surdos.
  • Alfabeto manual: Representação das letras através de gestos manuais.
Os sistemas de comunicação com ajuda abrangem um vasto repertório quanto aos elementos de representação, desde aqueles muito iconográficos até aqueles mais complexos e abstratos. Entre eles, citaremos algumas categorias, organizadas da menor para a maior complexidade:
  • Sistemas com elementos muito representativos: objetos, fotografias, desenhos representativos.
  • Sistemas compostos por desenhos lineares (pictogramas): Entre os principais temos:
    1. Picsyms: Desenvolvido a partir do trabalho com crianças pequenas (Carlson,1985) com dificuldades de fala. Contém aproximadamente 1800 símbolos.
    2. Pictogram Ideogram Communication (PIC): Sistema desenvolvido por Maharaj (1980) para indivíduos com dificuldades de discriminação figura-fundo. O sistema é composto por 400 símbolos (brancos em fundo preto).
    3. Picture Communication Symbols (PCS): Foi desenvolvido em 1981 por Roxana Mayer Johnson, composto inicialmente por 700 símbolos e sendo ampliado posteriormente para aproximadamente 3200 símbolos.O PCS é um sistema gráfico visual que contém desenhos simples, podendo-se acrescentar, na medida do necessário, fotografias, figuras, números, círculos para as cores, o alfabeto, outros desenhos ou conjuntos de símbolos.

  • Sistemas que combinam símbolos pictográficos, ideográficos e arbitrários:
    1. Sistema Rebus: Inicialmente criado em 1968 e adaptado e expandido (Clara) para indivíduos com dificuldades de comunicação dos Estados Unidos. Inclui 800 símbolos em preto e branco que combinados podem representar mais de 2000 palavras.
    2. Sistema Bliss: sistema simbólico internacional criado por Charles K. Bliss (baseado na escrita pictográfica chinesa e nas idéias do filósofo Leibniz), o Blissymbolics
Terminologia Básica

  • Comunicação Aumentativa: "Toda comunicação que suplemente a fala (gestos, expressão facial, linguagem corporal, comunicação gráfica, etc) " - Blackstone, 1986.
  • Comunicação Suplementar e/ou Alternativa: "É uma área da prática clínica que se destina a compensar (temporária ou permanentemente) os prejuízos ou incapacidades dos indivíduos com severos distúrbios da comunicação expressiva " - ASHA, 1991.
  • Suplementar (ou Aumentativa): Complementar à fala.
  • Alternativa: Sistema que substitui a fala.
Segundo Vanderheiden e Yoder (1986), o termo alternativa empregado em conjunto com aumentativa refere-se a indivíduos que têm a fala prejudicada de maneira que necessitam de um meio de comunicação (não que amplie) alternativo a ela.
Moreira e Chun (1997) consideram que o termo mais apropriado seja Comunicação Suplementar e/ou Alternativa, pois aborda todas as formas de comunicação que complemente, substitua ou apoie a fala (olhar, vocalizações, gestos, expressão facial, sorriso, alteração de tónus muscular, etc).


Considerações quanto à prescrição de um SAAC (Sistema aumentativo e alternativo de comunicação)

  • Atitude comunicativa do usuário: motivação, desejo e necessidade de estabelecer a comunicação interativa.
  • Nível de aceitação do uso de um sistema de comunicação pelo usuário, pela família e por outras pessoas significativas.
  • Atenção aos estímulos do ambiente.
  • Progresso evolutivo limitado através de abordagem fonoaudiológica tradicional.
  • Discrepância entre o nível de linguagem compreensiva-expressiva ou reduzido repertório linguístico.
  • Habilidades cognitivas.
  • Habilidades perceptuais.
  • Nível de acuidade visual.
  • Nível de acuidade auditiva.
Além dos fatores expostos acima, Culp e Carlisle (1988) consideram que:
  • A prescrição de um SAAC deve contar com um programa de intervenção que facilite a interação comunicativa.
  • A intervenção deve incluir tanto o usuário como os interlocutores significativos.
  • A intervenção deve enfatizar as necessidades comunicativas mais críticas e os contextos mais pertinentes.
  • Os programas de intervenção devem ajustar as necessidades e habilidades de cada usuário às técnicas dos SAAC.
  • O objetivo principal da intervenção é de facilitar ao máximo a possibilidade da comunicação funcional.
  • A intervenção inclui os aspectos emocionais implicados na situação de comunicação, ou seja, aspectos das relações inter-pessoais.

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