Retirado de:http://comunicacaoaa.wordpress.com/paralisia-cerebral/
Paralisia Cerebral
Filme “O meu pé esquerdo” (My Left Foot)
Ano: 1989
Áudio: Inglês
Legendas: Português
Duração: 103 min.
Áudio: Inglês
Legendas: Português
Duração: 103 min.
A história real do escritor irlandês
Christy Brown que, apesar de sofrer de paralisia cerebral desde bebê,
conseguiu provar ao mundo que tinha inteligência e talento. Oscars de
melhor ator para Day-Lewis e de melhor atriz coadjuvante para Brenda
Fricker.
Durante nove meses, o bebé cresce no
ventre da mãe. Uma maravilha da natureza acontece, passado esse glorioso
tempo de gravidez. O dia do parto vai-se aproximando com cada movimento
do bebé. Surge uma alegria incontida de um novo ser que prolonga a
nossa existência e que vai perpetuar as nossas características na
família, por o outro lado o peso de uma responsabilidade com a
interrogação se a natureza o vai dotar ou não de condições normais para
se desenvolver.
Noves meses passam, as dores do parto
surgem, o bebé nasce. Mas, a grande maravilha da natureza esconde por
vezes alguns mistérios e a realidade de um bebé “diferente” aos poucos
vai sendo exposta perante os pais.
A família é o primeiro núcleo social em
que a criança se integra após o nascimento, aprendendo e formando as
suas características pessoais e sociais futuras.
“Quase todos os médicos que me viram e
me examinara rotularam-me como um caso interessante mas sem esperanças.
Muitos disseram à minha mãe, com delicadeza, que eu era deficiente
mental e que seria assim. Foi um grande choque para uma jovem mãe que já
tivera cinco crianças saudáveis. Os médicos estavam tão certos do que
diziam que a fé de minha mãe em mim parecia quase uma impertinência.
Asseguraram-lhe que nada poderia ser feito por mim.
Ela recusou-se a aceitar a verdade
inevitável – como então parecia – de que eu não tinha esperanças. Ela
não podia e não acreditaria que eu era um imbecil, como os médicos
afirmava. Não havia nada nesse mundo em que pudesse se basear, nem uma
mínima evidência para apoiar a sua convicção de que, embora o meu corpo
fosse aleijado, a minha mente não era. Apesar de tudo que os médicos lhe
disseram, ela não podia concordar. Não creio que soubesse por quê –
apenas sabia, sem que a menor sombra de dúvida lhe passasse pela mente.”
(Brown in Buscaglia, 1993, pag. 91).
Histórias como a de Christy Brown
constituerm verdadeiras provas de vida. Com este tipo de histórias
aprendemos a superar barreiras, a superar as maiores adversidades e
realizar, concretizar o impossível, merecendo assim o reconhecimento e
atenção de todos.
Filho de uma humilde família, Christy
nasce portador de paralisia cerebral que lhe afecta todos os movimentos
do corpo, com a excepção do pé esquerdo. E é através desse pé que ele
nos transmite as suas frustrações, as suas desesperanças, sentimentos de
desamparo bem como as suas alegrias, triunfos e descobertas pessoais.
Os problemas que uma deficiência acarreta
constituem-se complexos, arrasadores e exaustivos, não só para a
própria pessoa como para a família também. No decorrer do filme podemos
destacar o vínculo familiar existente e decisivo para a auto-estima de
Christy.
Comparando experiências de pessoas que
tiveram influências da família, podemos encontrar aspectos positivos,
significativos, produtivos, mas também negativos, traumáticos e até
destrutivos. No caso de Christy, a família foi uma força determinante
para o seu crescimento em termos de educação (o ensino, as
aprendizagens); de formação da sua personalidade (o seu humor, a sua
auto-estima, as suas relações interpessoais); das emoções (alegrias,
tristezas, angústias, frustrações); na evolução social (as brincadeiras,
o apoio dos irmãos, a discriminação da sociedade), entre outros.
Cada família atribui um significado à
deficiência, que é influenciado pelo seu nível sócio-cultural, pelo seu
carácter, sua personalidade e pela capacidade de adaptação de cada um
dos elementos familiares e pelas suas experiências pessoais vividas.
Numerosos autores discutem as etapas
pelas quais os pais de crianças portadoras de deficiência passam, desde
negação, raiva, depressão e aceitação. No meio de tantos sentimentos
(culpa, vergonha, medo, rejeição) quantas vezes contraditórios,
sobressai o medo, responsável, em certos casos, por um afastamento
parental. Medo porque não compreendem, porque não sabem lidar com os
problemas e sentimentos do seu filho portador de deficiência, medo de
errar.
Sendo essas etapas situações normais,
tanto mais que são sentimentos comuns a todos nós, e por assim ser, os
pais têm tendência a criar mecanismos psicológicos de defesa que lhes
permitem adiar, momentaneamente, a percepção da realidade. Para, com
isso, terem tempo de se preparar e encarar os seus verdadeiros
sentimentos em relação à família, ao filho portador de deficiência e à
própria deficiência.
Para além de lidar com pressões internas,
a família também tem que lidar com pressões externas, a sociedade em
si. As diferenças que a sociedade inculta desde insensibilidade, falta
de conhecimento, repulsa, rejeição e preconceito, apresentam
repercussões no desenvolvimento da criança com deficiência, como
aconteceu no caso de Christy. Daí que a família actue como mediadora
assumindo atitudes e necessidades de protecção, defesa e luta pelos seus
direitos e os da pessoa com deficiência.
Para que as pessoas com deficiência
tenham as mesmas oportunidades que os ditos “normais ” devem ter acesso a
uma educação o mais dinâmica e acessível possível, voltada para vida,
sentindo e vivendo todas as emoções que a vida revela. Tal como as
outras pessoas, necessitam de ser “instruídos no uso das suas
capacidades, para que adquiram uma percepção mais acurada da realidade,
através da exploração do mundo à sua volta e das suas próprias
descobertas. Devem ser informados a respeito da mina oculta de seu
potencial, não apenas para serem o que são, mas para que sempre busquem
meios de ir além de seu eu presente.” (Buscaglia, 1993, pag. 189,
190). Explorando o mundo, exploram as suas capacidades afectivas desde
trocar sentimentos, emoções; partilhar discussões, preocupações; receber
e dar elogios, reprimendas; aceitar e expressar a sua individualidade;
tentar, conseguir e falhar; rir e chorar; sentir prazer e sofrimento;
sentir tudo aquilo que faz parte do processo de formação de uma pessoa.
Tal como Christy, as pessoas portadoras
de deficiência amam, transmitem sentimentos de amor. E não só sabem
amar, com se revoltam pelo direito de terem um amor como qualquer outra
pessoa. E é acreditando fielmente nesse amor, nessa entrega total ao
sentimento de amar que acabamos por encontrar alguém que retribui os
nossos sentimentos. Protagonista da sua própria vida, Cristy soube
valorizar e ser valorizado, respeitar e ser respeitado dentro das suas
limitações.
Tendo patente que qualquer criança é
educável, independentemente de possuir deficiência ou não, também temos
consciência do contributo da escola para aumentar o seu conhecimento
sobre o mundo em que vivem para se tornarem independentes e
auto-suficientes, assim podendo dispor e controlar a sua própria vida.
No caso de Christy, a escola foi em casa, os professores e colegas foram os seus irmãos.
Variando com as diferentes culturas e com
o decorrer dos séculos, as atitudes com as pessoas diferentes sofreram
várias alterações. A Educação Especial apresenta um percurso em
constante mudança. Da situação em que a criança com Necessidades
Educativas Especiais (NEE) era excluída do seu contexto sócio-educativo,
passámos para uma nova realidade: a inclusão. Nessa realidade tornou-se
evidente a preocupação em dar resposta a todas as crianças com NEE.
Correia (1992: 56-57) refere que na
educação dessas crianças é o ensino que permite o desenvolvimento das
suas aptidões, possibilitando, deste modo, a maximização do seu
potencial.
Assistiu-se, pois, a uma progressiva inflexão na percepção relativamente à criança diferente da dita normal.
A Educação Especial centra a sua
actividade na aplicação de um vasto conjunto de estratégias
pedagógico-educativas que pretendem promover “o desenvolvimento e a
educação do aluno utilizando todo o seu potencial – físico, intelectual,
estético, criativo, emocional, espiritual e social – ajudando-o a viver
como cidadão válido, autónomo e ajustado.” (Sanches, 1995: 15).
A adequação da prática educativa e o
estabelecimento de relações interpessoais empáticas podem contribuir
para a promoção desse desenvolvimento, de modo a que o atendimento
proporcionado às crianças com NEE as encaminhe no sentido do sucesso
educativo. Daí que a atitude e a qualidade científico-pedagógica dos
docentes se torne relevante. Aos educadores é exigido o desenvolvimento
de uma pedagogia centrada na criança e adaptar-se às hipóteses
estabelecidas quanto ao ritmo e natureza dos processos de aprendizagem
(Declaração de Salamanca, 1994).
No entanto, a inclusão continua a ser um
assunto polémico, pois as transformações necessárias ao processo estão
de certa maneira dependentes da formação dos educadores, professores e
dos recursos técnicos. Colocar a criança num ambiente o “menos restritivo possível”
(Correia, 1997: 19) e fornecer-lhe serviços especiais, exige novas leis
e implica modificação de edifícios e aquisição de novos materiais. Além
disso, crê-se que a inclusão passa sobretudo por uma alteração de
mentalidades e de atitudes. E estejam pais, educadores, professores,
governantes e população em geral tantas vezes resistentes a esta
mudança, este é um processo contínuo, que se encontra ainda numa fase
inicial de transformação.
Para adquirir o filme “O meu Pé
Esquerdo” bem como outros filmes ligados às Necessidades Educativas
Especiais acedam ao site: http://www.filmeseducativos.com/
Bibliografia
* BUSCAGLIA, L. Os deficientes e seus pais: Um desafio ao aconselhamento. Editora Record: Rio de Janeiro, 1993.
* CORREIA, L. M.. A aprendizagem num contexto de Necessidades Educativas Especiais. Revista – A Razão. Julho/Agosto/Setembro: 56-57. 1992
* CORREIA, L. M. Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas classes regulares. Porto Editora: Porto, 1997.
* SANCHES, I. R. Professores de Educação Especial. Porto Editora: Porto, 1995.
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